terça-feira, 9 de março de 2010

A Reputação do Planalto Central

Camila Carrano

Brasília há algum tempo, desenvolveu um projeto cultural em comemoração aos seus 50 anos que se realizará no próximo dia 21 de abril. Nos últimos meses, dentro de tanta polêmica no atual governo, essa tal celebração de aniversário se tornou algo totalmente diferente da proposta original. Artistas antes almejados decidiram não participar dos eventos para não serem vinculados aos escândalos da cidade. 

 Warren Buffet, considerado um dos homens mais ricos na última década disse certa vez - "São necessários 20 anos para construir uma reputação e cinco minutos para destruí-la". Afinal, o que a torna tão forte em sua presença, e tão sensível a qualquer atrito?

Na era da informação, a sociedade online está cada vez mais exposta para o bem e para o mal, modificando assim as relações entre os públicos e suas entidades e organizações. Hoje ser conhecido não basta, mas sim respeitado. Zelar pela reputação, mantendo a confiança é um dos maiores desafios atualmente.  

Eventos como esse da capital federal, balançam a credibilidade e a confiabilidade do público diante da organização governamental, mudando a percepção das pessoas e deixando uma imagem ruim projetada em suas memórias. São nesses momentos que percebemos o quanto o profissional de comunicação é necessário para o gerenciamento de crises.

Os conceitos agregados a uma imagem são mais influentes do que os fatos gerados, assim é normal entender o porquê da desvalorização da comemoração do cinquentenário de Brasília se esta for vinculada à imagem do atual governador da cidade. Um abalo de reputação nunca é questionado por uma dúvida, e sim por uma certeza. 

Em tempos de crise, o poder da imagem nada mais é do que a expressão simbólica da soma do poder de reputação, da capacidade de articulação social, da rede de contatos e do planejamento. Esse poder é, então, decisivo para o significado do impacto dos fatos, tendo em vista que a percepção é cada vez mais provocada por um contingente crescente de estímulos e informações que medem a visão do telespectador e das consequências que trazem consigo. 

O olhar do público é que determina as coisas como elas são. São os valores individuais e coletivos que dão esse significado a uma imagem. Com a atual sociedade midiática, o acúmulo de informação na rede e a fácil acessibilidade a qualquer acontecimento, tornou-se mais difícil associar valores positivos a essa significação em um mundo tão crítico e em constante mudança. Este bombardeamento de informação causa uma grande desconfiança, transformando a reputação em campo minado. 

Um novo ponto de equilíbrio deve ser encontrado, ajustando-se a sensibilidade aos novos condicionamentos, pois nos tempos da convergência e da interatividade as falhas chegam muito mais longe, de maneira muito mais rápida implicando um estrago em escala muito maior. Não basta apenas pensar em ações com sucesso e na sua repercussão, mas sim admitir que a qualquer momento essa situação pode ruir e toda a situação pode se alterar.

O profissional de relações públicas é essencial para gerenciar as relações e divulgar informações críveis que mantenham laços estreitos com seus públicos. É necessário buscar o melhor posicionamento possível diante dos fatos, pois o simbolismo agregado a situação pode-se tornar um meio de correção dos fatos posteriormente. O caráter simbólico visto a partir de novos valores, pode assumir novos significados, e em crises de imagem é o objetivo essencial do comunicador. 

Estabelecer a verdade como pilar de sustentação é fundamental para o desfecho dessas situações. Nas crises de imagem, a transparência deve ser aliada ao processo de evolução, onde as vítimas principais não são os políticos envolvidos, mas a população que sofre a repercussão, não só dos erros, mas também da reputação da cidade.

A falta de políticas públicas, que realmente priorizam a sociedade, fere tanto a imagem dos brasilienses, quanto a do país. Em meio a uma grande celebração, devemos priorizar a consciência pela realidade, necessidade de crescimento e novas conquistas. São 50 anos de capital federal e não 50 anos de corrupção. Há muito que se comemorar. Que a crise e a prisão do governador inspirem a necessária reconstrução da imagem da capital federal, que, mesmo em tempo de festividade teve a dignidade de se expor na busca de uma história mais honesta.

6 comentários:

F.P disse...

Muito boa reflexão..Acho muito interessante a história de Brasília..que já nasceu servindo de modelo para o mundo em se tratando de planejamento, de sair do padrão tradicional de capital (refugiando-se para o planalto central do país)..Mas na minha opinião, fica difícil separar a histõria de Brasília com a história de corrupção, repressão e mudanças que o país tem passado ao longo desses anos. Concordo com o final do texto, onde você diz que mesmo em momento de crise, Brasília está se expondo..isso é muito importante, e vai concordando com outro ponto do seu texto que diz que isso deve estar baseado na verdade! A moral da política é diferente da moral pessoal, cuja qual estamos envolvidos..por isso é um pouco difícil trazer a política para um cenário comunicacional que estamos acostumados...

Acho que este ano, pelo fato das eleições, ainda vamos discutir muito a respeito de política, moral e a inserção do RP ou comunicador nessa esfera..Espero discutir um pouco disso no ABRAPCORP também...

Abraço (falei demais..kaka)
Fabio Procópio

Marcia Ceschini disse...

Bom texto Camila.
Se há um local que precisa de todos os esforços de RP é Brasília.
É um desafio enorme fazer um bom trabalho em uma cidade onde lobby e conchavos acontecem desde o café da manhã.
É claro que estou generalizando, existem empresas boas e bons profissionais em todas as áreas, mas gerenciar a crise Brasília e sua politica é tarefa para nossa categoria inteira.
beijos

@camilajoaquina disse...

Primeiro venho a agradecer todo o apoio e Rts que sempre tenho! =)

O Fábio disse tudo, exatamente por Brasília sair dos padrões por ser planejada já muda muito o contexto e a forma de organização!
É dificil assim separar as histórias, porém, não deve-se deixar de lado todas as conquistas da cidade! (e olha q eu nem sou fã da cidade hehehe)

Em tempo de ano de eleições acredito que nós comunicadores devemos ficar atentos nas possibilidades de mudança que podemos fazer com a sociedade, e principalmente aprender com as novas situações!

E realmente Márcia, RP é algo que aqui é totalmente necessário! As pessoas aqui não tem essa visão da necessidade de um relações publicas, e é bem visto por faltar a graduação no Plano Piloto, tendo apenas em uma faculdade em Taguatinga não tão conceituada! A sensibilização pro fato deveria ser desde o ínicio, e infelizmente as coisas não funcionam assim! Uma pena =(

Beijões!

Natalya Nunes disse...

A sociedade tem como característica de enxergar apenas o que há de ruim... É assim em Brasília, é assim em São Paulo, Rio de Janeiro e em qualquer lugar... Infelizmente nossa nação não é tão patriota como deveria ser...
Quem sabe um dia nós comunicadores não consigamos estreitar esse abismo entre o povo e o orgulho de ser brasileiro.

Parabéns pra Brasília :D

Jéssica disse...

Uau!!! Camila, Adooorei seu post!!!
Não sabia que Brasília estava enfrentando uma crise.

É um belo exemplo sobre, reputação, gerenciamento de crises e opinião pública. É bem complicado, mas pode ser um banquete para um RP que gosta dessa área.

Beijos, Jé

Brukaa disse...

Sempre vemos na faculdade a idéia do RP trabalhar com uma empresa e nunca do conceito de RP cuidando da imagem de uma cidade. Faltam, portanto, profissionais qualificados, profissionais que tenham a consciência de que não é apenas uma empresa privada que sofre crise de imagem. Acho que esse é um dos erros de alguns teóricos, falar tanto sobre estratégia, sobre como ganhar dinheiro fazendo o público legitimar uma empresa X e esquecendo que uma imagem não é só geradora de recursos, mas no caso de Brasília, é geradora de princípios e principalmente de críticas.