terça-feira, 10 de novembro de 2009

Anedotas na imprensa

Por Gisele Federicce


A jornalista Gisele Federicce deu o pontapé inicial na seção 'extras', falando d'Os Diversos Caminhos da Comunicação. E hoje ela volta para falar um pouco mais sobre 'comunicação'.






Um consultor de RH, Ary Itnem Whitacker, representa a Confraria Britânica do Abraço Corporativo no Brasil. Ficou um tanto mais conhecido quando começou a dar entrevistas para veículos de imprensa, explicando sobre a tal Teoria do Abraço – que sugere que a falta de produtividade nas empresas é causada por uma inércia do afastamento entre as pessoas, e pode ser curada com sessões coletivas de abraços. Seu vídeo no Youtube, que o mostra abraçando as pessoas na Av. Paulista ao segurar uma placa onde se lê “Dá um abraço?”, já tem quase 660 mil visualizações. Até aí, nada de muito estranho.

Acontece que no site da Confraria (hoje já fora do ar), além dos contatos por e-mail e telefone, havia uma indicação de registro em cartório, inclusive com endereço. E se alguém tivesse ido até lá para dar uma olhada (alguém já fez isso na vida?), descobriria que a história toda não passava de uma invenção do publicitário Ricardo Kauffman, para provar que não precisa de muito para conseguir espaço na mídia. Kauffman treinou um ator para incorporar o personagem Ary Whitacker e produzir o filme O Abraço Corporativo, em cartaz na 33ª Mostra de Cinema de São Paulo, que acabou na última quinta-feira, 5.

Ricardo Kauffman conseguiu espaço para seu personagem na Folha, Veja, O Globo, Rádio CBN, veículos especializados em RH e consideráveis minutos em programas televisivos. “A ideia foi registrar como alguém desconhecido, dono de um discurso previsível, age para conquistar seu lugar ao sol na mídia de hoje”, diz o diretor e produtor do filme. O único veículo que declinou a pauta do abraço corporativo, conforme mostrou o filme, foi o jornal O Estado de S.Paulo. A jornalista insistiu para conversar com algum cliente da consultoria de Whitacker, mas enquanto ele a enrolava, a repórter desistiu da matéria.

Tanto óbvia quanto genial, a ideia do publicitário deixou o “pop-star” da rádio CBN, Heródoto Barbeiro, lamentando a própria mancada. Sim, porque os cinegrafistas do documentário não se contentaram em captar apenas o making-off da entrevista do “consultor”, que foi ao ar no programa Mundo Corporativo, apresentado pelo jornalista. Chegaram para uma conversa pós-revelação de que Ary era um ator e que a Confraria era uma farsa.

Os jornalistas, como eu, deverão lamentar a situação, apesar de conseguir dar boas risadas com os casos fictícios. O sistema de pastelaria de matérias adotado por algumas redações não permite, infelizmente, a checagem minuciosa de dados antes da publicação de uma reportagem. Apesar de muitos erros acabarem sendo publicados, a culpa nem sempre é do repórter. Alguns pontos de vista sobre o tema são abordados no filme, com entrevistas de Eugênio Bucci e Manuel Carlos Chaparro, professores de jornalismo na ECA/USP, Bob Fernandes, editor da revista Terra Magazine, o próprio Heródoto Barbeiro, da CBN, e outros.

Apesar de frustrante, vale muito a pena.

Veja algumas reportagens publicadas sobre a Teoria do Abraço e a campanha de Ary na Av.Paulista: Veja SP - Folha Online - O Globo - Gazeta Mercantil

3 comentários:

Fabio Procópio disse...

Ñão estava a par dessa estratégia.. Por um lado pode parecer frustrante para o jornalista, mas não deixa de ser uma sacada.. tudo bem que não concordo com algumas atitudes para poder ter o espaço na mídia.. Acho que a enganação não está com nada..apoio sim o lado estratégico.

Abraços

Ocappuccino.com disse...

Mas a ação do consultor foi muito estratégica e se for parar pra pensar, neste aspecto de enganação, muitos casos de buzz na internet são engançoes. O cara mandou bem, uma boa ideia, um bom discurso e ele conseguiu aparecer. Coisa que iremos planejar muitas vezes nas empresas ou para clientes e podemos falhar.

MATEUS

Daniele Pedace disse...

Muitas pessoas utilizam a enganação para chegar onde querem....até pode ser de maneira estratégica...rs...mas claro que não de maneira ética...e como um dos princípios das RP's é a ética, não concordo em utilizar...

Tem dois filmes bem interessantes que tratam deste aspecto muito bem, Hancock e Obrigado Por Fumar.

Abraço
Daniele A Bordo.